Os recursos de investidores estrangeiros continuaram a entrar no mercado financeiro brasileiro em fevereiro (R$30,1 bi na B3 (SA:B3SA3)) e contribuíram para a manutenção da alta das ações até a terceira semana do mês. Na última semana de fevereiro, com a deflagração da guerra da Ucrânia, grande parte da alta foi revertida, fazendo o Ibovespa fechar em pequena alta de 0,89%. A pressão sobre o índice foi maior e no fechamento do mês caiu -5,19%.

Foi possível verificar que ao longo do mês o fluxo de vendedores das small caps se acomodou à medida que os resgates de fundos de ações foram estabilizados. No entanto, esse fluxo vendedor retornou com força na última semana com os receios dos riscos potenciais da guerra. Ao final de fevereiro, a relação do índice Small/Ibovespa encontrava-se no menor nível dos últimos 30 meses.

Destacamos o início da divulgação dos resultados das companhias abertas referentes ao 4º trimestre de 2021. De um modo geral, os resultados têm sido bons e demonstram o vigor das grandes empresas brasileiras, para aproveitar o crescimento do PIB de aproximadamente 4,5% de 2021.

Em alguns casos, vimos alguma pressão do lado de custos e despesas, seja por conta dos preços de insumos, seja por conta dos primeiros reajustes salariais.

Do ponto de vista patrimonial, grande parte das companhias apresenta boa condição financeira e baixo nível de endividamento ao final de 2021, capacitando-as a recomprar suas próprias ações aos preços baixos (muitas estão fazendo) e minimizando os impactos diretos nos resultados do crescimento do custos de dívidas (alta dos juros).

Temos que mencionar o comportamento do câmbio, com desvalorização do dólar de 2,90% em fevereiro de 2021 atingindo R$5,15 no fim do mês. Este comportamento da moeda ajuda na acomodação da inflação, mas não é o suficiente para contê-la, especialmente diante da contínua alta das commodities.

O início da guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe de volta ao cenário as nuvens cinzas que estavam se dissipando com o controle da pandemia de Covid e com o processo de regularização das cadeias produtivas, que haviam sido desorganizadas no período mais intenso da crise sanitária.

Os impactos do conflito (da guerra em si e das sanções) para a economia e para os mercados certamente não são bons e sua intensidade dependerá da duração e extensão dos combates. O roteiro dos impactos é sabido por todos: aumento inflacionário, dos juros e redução das taxas de crescimento.

É com este cenário que devemos conviver a partir de agora. Deveremos ter uma grande rodada de desajustes nos preços relativos de produtos, choques de preços, choques de oferta, notadamente de alimentos e energia e, por consequência, também uma nova rodada de desorganização das cadeias produtivas, com a falta de insumos e componentes.

Por isso que veremos esforços e “torcida” para que esse conflito se resolva logo, não para voltar imediatamente à situação que vigorava anteriormente, o que parece impossível, mas para minimizar os danos.

Para os investimentos, dados os preços deprimidos das ações e a perda de referência de preços relativos dos ativos de um modo geral, consideramos que deter ações de boas empresas, com negócios resilientes e bem administrados seja uma boa forma de preservar o valor patrimonial de médio e longo prazo.