O mês de junho de 2022 foi especialmente difícil para os mercados de risco. Principalmente, pela perspectiva de aceleração dos aumentos dos juros nos países desenvolvidos e pela elevação do risco Brasil decorrente das preocupações com relação às contas do governo (fiscal) diante da aprovação da “PEC Kamikaze” que acentua o rombo do Teto de Gastos. Isto sem mencionar a questão do processo eleitoral local, que começa a ganhar corpo.

O risco Brasil, medido pelo CDS, avançou de 220 para 300 pontos, demonstrando menor interesse dos investidores pelo país nesse momento. O volume negociado na B3 (BVMF:B3SA3) se manteve ao nível de R$24 bilhões por dia, inferior aos R$32 bilhões observados até abril, confirmando uma certa desconfiança.

A maior pressão de venda na B3 veio dos institucionais, estimulados a migrar para a renda fixa, que tem oferecido retorno de 6% a.a. acima da inflação.

Por outro lado, o evento positivo do mês foi o bem-sucedido processo de privatização da Eletrobras (BVMF:ELET3), efetivado por meio de uma capitalização de ações na primeira quinzena de junho.

A operação movimentou um total de R$33,7 bilhões e, na prática, significou a transferência do controle da companhia para o setor privado.

No cenário internacional, acreditamos em um ambiente cinzento aguardando condições de dimensionar qual o tamanho do ajuste que terá que ser implementado nas economias desenvolvidas para “domar” a inflação.

A exigência de uma taxa de juros maior que a sinalizada atualmente significará maior queda do PIB e maior revisão para baixo dos lucros das empresas.

Dada a complexidade das variáveis, acreditamos que dificilmente escaparemos de uma recessão no início de 2023.

No Brasil, o ajuste de juros encontra-se mais adiantado (próximo ao final) e aguardamos seus efeitos na moderação da inflação. Esse efeito tem demorado mais do que o esperado por conta da escalada dos preços das commodities e pelo estímulo da demanda agregada pelo governo e congresso (os mais diversos auxílios) visando manter a economia em bons patamares de atividade durante o processo eleitoral. Demorado, mas deve vir.

Apesar dessa confusão no cenário geral, começamos a ficar um pouco mais otimistas com relação ao mercado de ações no Brasil, especialmente com relação às Small Caps.

Uma pequena fresta na janela de oportunidades parece se abrir. Podemos estar nos primórdios de um novo ciclo de valorização. Neste sentido, dois aspectos chamam atenção:

  1. A proximidade do final do ciclo de alta de juros. A partir desse ponto, os investidores passam então a avaliar quando ocorrerão os cortes, o que gera uma dinâmica favorável para os mercados de risco.
  2. Os preços muito baixos das ações. Principalmente após a forte queda de junho, refletindo toda a instabilidade do momento. O prêmio de risco se coloca em patamar muito interessante para os investidores remontarem posições.

Precisa ficar entendido que esse início de recuperação que vislumbramos para as ações no Brasil deve ser ainda muito volátil e cheio de surpresas. Isto porque estará envolto pela definição do grau de ajuste da economia mundial e pelas eleições presidenciais no Brasil, que a partir de agora entram na sua fase mais decisiva.

Declarações e posturas pró responsabilidade fiscal tendem a ser bem recebidas pelos investidores, independente da corrente vencedora.