O ano de 2022 foi complexo para os investimentos no Brasil, notadamente para os ativos de risco, em razão da grande alternância de cenários que vigorou ao longo de todo o período. Risco inflacionário, risco fiscal e risco político sempre estiveram presentes e mantiveram em alta a grande “inimiga” dos investimentos mais arriscados, a taxa de juros.

Nem mesmo o bom desempenho da economia real (o PIB deve fechar o ano com crescimento superior a 3%) foi suficiente para amenizar a situação.

O golpe final para os mercados veio no último trimestre do ano, quando após as eleições, vencidas pelo ex-presidente Lula, houve uma grande deterioração das expectativas em razão dos anúncios de equipe e declarações conflitantes com os objetivos de equilíbrio fiscal.

Sendo assim, o Ibovespa fechou o ano com alta de 4,69%, contra uma taxa Selic em 13,75% ao ano.

Se fôssemos seguir o caminho normal, em 2023 entraríamos em uma fase que compreenderia a redução das taxas de juros, redução da percepção de risco e outras consequências que favoreceriam uma retomada do interesse por ativos mais arriscados. Isto certamente ocorrerá nos Estados Unidos, que no final deste ano poderá ver o início de uma mudança de ciclo pelo Fed.

Mas, no Brasil, isso não é tão certo. A mudança de governo e principalmente a postura da equipe do presidente Lula durante o período de transição e primeiros dias de governo geraram muita desconfiança no mercado.

Alguns segmentos acreditavam em uma frente ampla, mais racional e com nomes de destaque e respaldo dos agentes econômicos. Equilíbrio fiscal, redução de gastos e boa gestão de estatais foram deixados em segundo plano. Isso ficou patente com a edição, às pressas, da PEC da “gastança”.

Por outro lado, vemos que o novo governo assume com grandes limitações impostas pela realidade dos números, o que dificultará qualquer posicionamento mais heterodoxo ou criativo na economia, tais como:

– Carga tributária em patamares elevadíssimos (34% do PIB) = não é possível aumentar impostos para bancar despesas;

– Dívida pública em patamares elevados (75% do PIB) = pouco espaço para aumentar a dívida, sob pena de dificuldade de financiamento e suas consequências.

Além disso, o novo governo enfrentará um Congresso de caráter oposicionista, com dificuldade em obter maioria e que deve funcionar como barreira para que se aprovem atos que comprometam conquistas importantes do passado.

Assim, apesar da apreensão geral que uma mudança sempre gera, vemos uma possibilidade, que não é pequena, de termos um governo mais realista e responsável do que se espera no momento.

Isso seria uma boa surpresa e colocaria o Brasil na recuperação cíclica da qual falamos nos parágrafos anteriores.

No caso das ações brasileiras, os preços estão muito abaixo do que parece justo e uma surpresa positiva no cenário deve proporcionar altas significativas, típicas de um novo ciclo.

Bons negócios!