O desempenho geral dos mercados foi negativo em abril, refletindo a combinação de três fatores globais que estiveram ativos o tempo todo e sobre os quais eu gostaria de comentar no artigo deste mês: o ciclo de elevação dos juros pelo Federal Reserve nos EUA, Guerra na Ucrânia e os “lockdowns” na China.

A alta dos juros nos EUA afeta o fluxo de recursos para ativos de risco e economias emergentes. A Guerra da Ucrânia e as sanções econômicas impostas à Rússia afetam determinadas cadeias de suprimentos, notadamente de alimentos e energia (commodities) e os lockdowns na China criam dúvidas sobre o crescimento do PIB mundial.

Com esse pano de fundo sombrio, vimos a interrupção de entrada de investimentos estrangeiros para os mercados financeiros do Brasil. Como consequência, o índice Ibovespa caiu mais de 10% em abril e o Real se desvalorizou 4,70%, chegando a R$4,96.

Na Bolsa, o movimento que vimos em abril foi de queda generalizada, que poupou um número pequeno de empresas em setores muito específicos, tais como celulose, petróleo e alguns segmentos do agronegócio. Os setores mais penalizados são os de tecnologia que embutem muito crescimento em suas avaliações por parte dos analistas.

Esse movimento de queda também ocorreu ao longo de todo o mês nos mercados desenvolvidos, interrompendo uma tendência de alta de ações de longo prazo, que havia sido interrompido apenas temporariamente em 2020, com o advento da Covid-19.

Como trata-se de uma tendência generalizada de redução de exposição a ativos de risco, esse comportamento coloca a maior parte das ações no mesmo “balaio”: caem as boas e más empresas. Dessa forma, surgem oportunidades de preços distorcidos que vamos tratar na sequência deste artigo.

Os analistas e os agentes do mercado passaram a acreditar que a inflação – antes entendida como temporária – é real e deve ser contida. Para se fazer isso, uma ferramenta que já conhecemos muito bem no Brasil deve ser usada, o aumento de juros visando esfriar a demanda agregada global.

O Banco Central brasileiro já vem fazendo isso há um ano e o norte-americano (Fed), colocou em prática um aperto monetário mais forte a partir deste mês de maio em sua última decisão, que elevou a taxa básica nos EUA em 0,50 ponto percentual.

Nesse momento, a convicção do mercado é que o Fed está relativamente atrasado nessa decisão (“behind the curve”) e deve fazer um ajuste com impactos importantes na atividade (PIB).

Por outro lado, a perspectiva de menor crescimento chinês e a eventualidade de encerramento mais precoce da guerra entre Rússia e Ucrânia poderiam facilitar a tarefa do Federal Reserve ao conduzir a pressão inflacionária, especialmente sobre as “commodities”.

Assim, apesar de inevitável, o aperto monetário pode ser menor do que se espera atualmente e assim reverter parte da queda exagerada dos ativos de risco.

Apesar dessa possibilidade (amenizar o ajuste), o cenário pessimista deve prevalecer. A vertente principal para as próximas semanas deve ser a alta de juros do Fed e a queda das ações americanas, não podemos negar isso.

No Brasil a queda das ações já ocorreu durante o movimento de alta dos juros domésticos e grande parte dos ativos está em patamares muito baixos, incompatíveis com os aspectos operacionais das companhias. Mas, como sabemos, para que os ativos subam é necessário fluxo de compra, o que inexiste neste momento.