Foi dada a largada na temporada de balanços das companhias abertas no terceiro trimestre. Diferentemente do trimestre passado, os especialistas esperam que os resultados das empresas mostrem algum tipo de alívio, apesar de não acreditarem em milagres.

A divulgação dos resultados das empresas listadas na B3 coincide com um momento raro na história, em que o Brasil está com maior estabilidade econômica do que outros países como Estados Unidos e China. Mas isso não é de todo positivo.

Para os analistas entrevistados pela Forbes, o período de julho a setembro foi fortemente afetado por problemas externos que atingiram as cotações das commodities e do câmbio.

Por isso, os analistas Régis Chinchila e Luis Novaes da Terra Investimentos dizem acreditar que as empresas voltadas para o mercado interno têm perspectivas melhores do que as mais expostas à economia internacional.

“Esta dinâmica deve ser notada, com resultados melhores de empresas que dependem somente do desenvolvimento da economia nacional, como serviços e logística. Enquanto isso, companhias com receitas ou custos relacionados ao exterior vão refletir os desafios da economia global, como os frigoríficos, aéreas e materiais básicos”, avaliam.

Gabriel Meira, sócio e especialista da Valor Investimentos, avalia que os resultados das empresas de commodities como petróleo, minério de ferro e aço, não devem chamar a atenção como fizeram no trimestre passado. “As commodities devem mostrar um resultado mais lateralizado como reflexo da guerra na Ucrânia e da demanda mais fraca na China”.

Os analistas do Santander concordam que a queda nos preços do minério de ferro e do aço podem afetar os resultados, mas estão mais otimistas com o setor de petróleo. “Esperamos que a Petrobras (PETR3/PETR4) tenha forte crescimento no lucro líquido e no Ebitda”, diz o banco em relatório. “As outras empresas do setor também devem se sair bem.”

A inflação, que foi um grande desafio para as empresas no segundo trimestre, não promete ter tanta relevância nos dados que serão divulgados, já que o IPCA mostrou deflação nos últimos três meses e está dando sinais de que continuará descendo a ladeira.

Para Luiz Carlos Corrêa, sócio da Nexgen Capital, o mix de estabilidade na taxa de juros e deflação é muito positivo para as empresas do varejo, que se beneficiam com a volta do poder de compra da população. Ele destaca que os resultados não devem ser exemplares, mas podem mostrar uma luz no fim do túnel.

O setor financeiro, que se mostrou muito resiliente nos resultados dos últimos trimestres, deve continuar entre os melhores desempenhos do período, na visão de Erik Sala, especialista em fundos de investimentos da DVinvest.

“Em um ambiente de juros altos, os grandes bancos costumam se sair bem, mas é importante ficar de olho na qualidade da carteira de crédito”, afirma. Na visão dos analistas entrevistados, Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú (ITUB4) devem se sair melhor do que Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11).

Chinchila e Novaes, da Terra Investimentos, também dizem acreditar que o setor de tecnologia se recupere no trimestre, devido à estabilidade do setor de serviços. “Destacamos a Locaweb (LWSA3) e os ativos cíclicos como a Cielo (CIEL3), que pode apresentar bons resultados como fruto da gestão de recuperação nos últimos anos”, escreveram.

Pensando no futuro, Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Investimentos, acredita que as datas festivas que estão por vir podem trazer fôlego para os resultados do quarto trimestre.

“A sazonalidade tende a beneficiar a dinâmica de resultados no último trimestre do ano, principalmente para as empresas de consumo, ainda que o quadro geral de dificuldade de expansão de margens permaneça,”, diz.

Em contrapartida, os analistas da Terra avaliam que o cenário internacional é muito mais complexo e incerto. “A perspectiva do mercado é que a situação piore. O conflito na Ucrânia não demonstra estar próximo de um fim e os custos da energia devem seguir pressionados nas grandes economias do mundo”, analisam Chinchila e Novaes.

Esse efeito será aprofundado com a ajuda dos principais exportadores de petróleo e a Rússia, reunidos na organização Opep+. “A Organização não pensa em contribuir para que os preços do petróleo recuem”, escreveram.