Com a taxa Selic em 13,75%, o cenário da renda variável não parece favorável. No entanto, os analistas afirmam que vale a pena arriscar seu dinheiro investindo em small caps visando um retorno maior no futuro. Essas ações são das empresas negociadas na Bolsa com menor valor de mercado, e podem oferecer retornos maiores do que as large caps, também conhecidas como blue chips (companhias de alta capitalização na Bolsa), no longo prazo. Exemplos como Brasil Agro (AGRO3), Embraer (EMBR3) e Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) fazem parte dessa categoria.

O índice de small caps foi lançado em 31 de agosto de 2005. Desde seu início, a valorização média anual é de 12,5%. No caso do Ibovespa, a média é de 9,4%. Esses três pontos percentuais de diferença parecem pouca coisa. Porém, no longo prazo, isso quer dizer uma valorização bem maior. O melhor desempenho das small caps é explicado porque as empresas menores têm mais potencial de crescimento, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP. “As large caps são empresas maduras e estabelecidas. São seguras, mas têm menos espaço para crescer. Então, quem tem um horizonte de investimento mais longo deve buscar as oportunidades de ganho nessas small caps.”

Engana-se quem pensa que “empresas com menor valor” significa pequenos negócios ou startups. Na verdade, em média, uma empresa dessa categoria possui um valor de mercado superior a R$ 4 bilhões e um faturamento em torno de R$ 8,5 bilhões por ano. Um exemplo é o Grupo Mateus (GMAT3), a maior delas, com um valor de mercado de aproximadamente R$ 14,8 bilhões e um faturamento anual de quase R$ 25 bilhões.

No entanto, esses valores são considerados baixos em comparação com as maiores empresas da bolsa. Um exemplo é a Petrobras, que representa cerca de 10% do Ibovespa, possui um valor de mercado de R$ 357,8 bilhões e um faturamento anual de R$ 188,3 bilhões.

Os prognósticos para as empresas menores são positivos. “Estamos no fim do ciclo de alta da taxa de juros e é consenso que, de agora em diante, haverá mais investidores migrando para a Bolsa. Com isso, as ações dessas empresas tendem a se valorizar e até sua liquidez poderá crescer”, diz Leandro Siqueira de Paulo, especialista em ações da Spiti.

O mercado acionário brasileiro apresenta vários casos de small caps que se tornaram gigantes. Nomes como Weg (WEGE3), Magazine Luiza (MGLU3) e Grupo Cosan (CSAN3) são exemplos de empresas menores que cresceram muito. Esses casos evidenciam o potencial de valorização das small caps e como elas podem se tornar grandes participantes do pregão.

A grande vantagem de investir é o potencial de valorização. Muito dificilmente os investidores verão uma ação como o Itaú Unibanco (ITUB4) dobrar de preço em um determinado ano. Por sua vez, em momentos favoráveis econômicos, esse nível de retorno acontece com certa frequência com as small caps.

No entanto, Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research, alerta que o inverso também é verdadeiro. “É difícil uma blue chip cair 80% no ano. Em small caps é bem mais provável que isso aconteça em um momento ruim. Logo, você tende a ter uma volatilidade e um risco maiores.”

Como avaliar os riscos

O atual momento de juros altos e cenário econômico desafiador não facilita a vida do investidor. Essas ações tendem a sofrer mais em momentos assim. Além disso, os especialistas são unânimes em indicar a liquidez reduzida como um risco adicional. São empresas menos conhecidas, o que torna mais difícil encontrar comprador. Portanto, é necessário avaliar cuidadosamente a possibilidade de entrar na ação e também a de sair, levando em consideração o volume a ser investido.

Eduardo Cavalheiro, da Rio Verde Investimentos, alerta para outro risco: essas empresas são pouco acompanhadas pelos analistas, o que significa que há poucas opiniões e avaliações disponíveis. Isso pode levar o investidor a ter de basear sua decisão em uma única análise, ou mesmo em nenhuma.

Veja as melhores small caps para investir

O analista da Spiti avalia cinco empresas que atualmente apresentam potencial de interesse para os investidores, com destaque para a C&A (CEAB3), que registrou uma valorização de quase 100% neste ano.

“Gostamos bastante de C&A, Simpar, Movida, Taurus e Ambipar. As três primeiras têm muito potencial para se valorizarem com a queda da taxa de juros, e as duas últimas possuem um modelo de negócio que tende a se sair bem independente do que acontece no Brasil.”

A XP adota uma postura defensiva diante do cenário macroeconômico desafiador, analisando empresas de alta qualidade, com lucratividade e múltiplos que não são elevados. De acordo com a corretora, as cinco maiores companhias com potencial de valorização são: Bemobi (88%), Grupo Mateus (87%), PetroReconcavo(76%), Cury (50%) e Vivara (39%).